quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A MAGIA DAS LETRAS NA AVENIDA

                                                                                 *Noel costa


“São mágicos sinais que vão se abrindo”. É assim que o poeta Tiago de Mello descreve o processo de alfabetização no seu no belo poema Canção para os fonemas da alegria. A aprendizagem da escrita tem realmente algo de mágico , por isso a alfabetização de adultos ainda comove muito as pessoas já alfabetizadas, seja por que na sua família ou no seu círculo de gente querida existe alguém que sofreu ou ainda sofre com o limite imposto pelo analfabetismo na sociedade letrada; seja por que sabe que a aprendizagem da escrita é uma chave que dá acesso a muitos paraísos, até mesmo celestes, como a leitura dos livros sagrados, que os não alfabetizados ficam sem acesso  direto.



No desfile do último 7 de Setembro em Itabuna, visualizamos esse estado de solidariedade das pessoas com os não alfabetizados no desfile dos alunos topa na Avenida Cinquentenário. As pessoas aplaudiam, gritavam, se emocionavam; muitos não se continham, entravam na ala ABC de Jorge Amado para abraçar e tirar fotos com os alfabetizandos do programa.



A participação dos alunos do topa nesse desfile oficial da cidade, junto às escolas da Rede Estadual, mas com uma ala própria: O ABC de Jorge Amado, está dentro do Programa de ação do topa na Direc 7, abarcando duas linhas de trabalho: Dinamização das turmas,com cidadania ;e Registro e divulgação das ações. Essas linhas de ação já vem sendo desenvolvidas  nesta Direc, como no  projeto ousado desenvolvido no mês de junho, com o resgate da cultura popular, dos festejos juninos,na sua matriz mais rural, comunitária, reforçadora dos laços comunais, da criatividade e da alegria genuína,nascida do prazer de estar junto, em contraponto à cultura de massa,aos”enlatados”, a indústria cultural.
A Direc nos apresentou o tema geral do desfile das escolas do estado, que foi Jorge, sempre amado, nos convidando a também participar; daqui retiramos o tema de nosso estudo e desfile, que foi o ABC de Jorge Amado; parodiando o título de uma das obras do próprio Jorge, também escolhido para leitura,  ABC de Castro Alves. A escolha desse livro se deu tanto pela afinidade do título com o nosso fazer, quanto pela possibilidade mesmo de ler com os alunos as poesias do poeta de Navio Negreiro; sabendo, claro, como afirma Jorge que “ Castro Alves escreve para o povo em função do povo; e mais adiante: “Quero escrever sobre Castro Alves com amor,como um homem do povo sobre um poeta do povo.”




O tema empolgou os professores e alunos, que se deliciaram com os versos do poeta dos escravos. A realidade do povo ainda é de muita opressão e agonia, por isso se encantaram tanto com o retrato do poeta feito por Jorge Amado e pelos versos libertários do bardo de Vozes D’África.

Além de estudar e discutir nas salas o tema, os professores usaram a criatividade para confeccionar faixas, cartazes, roupas, alegorias para levar à avenida. Os alunos escolheram os versos que mais lhes tocaram para socializar com o público. Inspirados no tema da dignidade humana também criaram suas frases, seus versos, expressando seus sentimentos.





























A falta de recurso financeiro não funcionou como empecilho à participação. Cada um fez o traje do seu jeito, a única regra foi que apresentassem as cores da bandeira. Mandaram pintar camisas, usaram TNT, fizeram toucas...”Sou estilista”,se gabava uma aluna, combinando as cores da camisa com a da saia.






















Entretanto o que mais chamou atenção mesmo foi um aluno que veio numa alegoria, como sósia de Jorge Amado, em cima de um carro. As pessoas se aproximavam, conversavam com ele, tiravam fotos. As crianças adoraram o Jorge Amado com jeito de vovô. Nesse carro também desfilaram alunos do topa que têm dificuldade para se locomover.






A ala do grupo  ABC de Jorge Amado, dos alunos do topa,com aproximadamente 100 pessoas, foi divida por várias faixas,todas muito bem pintadas pelos próprios alunos e professores;não houve patrocínio,não houve verba externa.Com esse trabalho, o  grupo deu um verdadeiro exemplo de união e de poder.Provou que também é possível integrar-se ao desfile oficial  e fazer bonito com poucos recursos,com material reciclado...

Sabemos que a palavra analfabeto ganhou um sentido muito negativo, pejorativo mesmo em nossa sociedade. É usado por muitos como sinônimo de ignorante, grosseiro, etc. Daí quem ainda não domina o código escrito ter vergonha de apresentar-se como analfabeto.Por isso,merecem todos os nossos parabéns os alunos  do topa que ultrapassaram a barreira do estigma para mostrar-se como alguém no caminho da liberdade, no caminho de maior autonomia no seu cotidiano,de asas abertas, mais livres no vôo do conhecimento.



Parabéns ao TOPA, parabéns a todos os que desfilaram na ala  ABC de Jorge Amado ! Itabuna,setembro de 2011
*Supervisor regional do topa- Direc 7

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